sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

África

África

O Continente africano tem seus limites ao Norte pelo Mar Mediterrâneo, ao Oeste pelo Oceano Atlântico e ao Leste pelo Oceano Índico. De forma simples podemos dividi-lo em duas zonas inteiramente distintas: o centro-norte, dominado pelo imenso deserto do Saara, enquanto que o centro-sul, depois de percorrer-se as savanas, é tomado pela floresta tropical africana.
Esta separação geográfica igualmente refletiu-se numa separação racial. No Norte do continente vivem os árabes, os egípcios, os berberes e os tuaregues. No centro-sul, ao oposto, habitam mais de 800 etnias negras africanas. Atribui-se o atraso da África meridional ao isolamento geográfico que a população negra se encontrou através dos séculos. Afastada do Mediterrâneo, o grande centro cultural da Antigüidade, pelo deserto do Saara, e longe dos demais continentes pela dimensão extraordinária dos dois oceanos, o Atlântico e o Índico. Separados do resto do mundo, os africanos se viram vítimas de expedições forâneas que lhes tragaram os filhos ao longo da história.
Ainda antes da chegada dos traficantes de escravos europeus, os árabes já praticavam o comércio negreiro, transportando escravos para a Arábia e para os mercados do Mediterrâneo oriental, afim de satisfazer as exigências dos sultões e dos xeiques. As guerras tribais africanas, por sua vez, favoreciam esse tipo de comércio, visto que a tribo derrotada era vendida aos mercadores e alguns membros das tribos derrotadas feitos como escravos pelos vencedores, porém uma escravização de forma patriarcal, sem a existência de comercialização.
Durante os primeiros quatro séculos, do século XV a metade do XIX o contato dos navegantes europeus com o Continente Negro, a África foi vista somente como uma grande reserva de mão-de-obra escrava, a “madeira de ébano” a ser extraída e exportada pelos comerciantes. Traficantes de quase todas as nacionalidades montaram feitorias nas costas da África. As simples invasões piratas que pretendiam primeiramente atacar de surpresa do litoral e apresar o maior número possível de gente, foi dando lugar a um processo mais elaborado, ou seja tornou-se uma prática sistemática.
Os mercadores europeus, com o aumento da procura por mão-de-obra escrava, impulsionada pela instalação de colônias agrícolas na América, associaram-se militarmente e financeiramente com sobás e régulos africanos, que viviam nas costas marítimas, dando-lhes armas, pólvora e cavalos para que afirmassem sua autoridade numa extensão o quanto maior possível. Os prisioneiros das guerras tribais eram encarcerados em “barracões”, em armazéns costeiros, onde permaneciam até a chegada dos navios tumbeiros ou negreiros que os levariam como carga humana pelas rotas transatlânticas.
Os principais pontos de abastecimento de escravos, pelos menos entre os séculos XVII e XVIII eram o Senegal, Gâmbia, a Costa do Ouro e a Costa dos Escravos. O delta do Níger, o Congo e Angola viriam a ser grandes exportadores nos séculos XVIII e XIX.Afinal, quantos escravos foram transportados pelo Atlântico? Existe muito desacordo entre os historiadores, alguns chegaram a cogitar 50 milhões, mas R. Curtin, considera entre 9 a 10 milhões, a metade deles proveniente da África Ocidental, sendo que o apogeu do tráfico ocorreu entre 1750 a 1820, quando os traficantes carregavam em média uns 60 mil escravos por ano. O tráfico foi o principal responsável pelo vazio demográfico que acometeu na África no século XIX.
Desta maneira inseriram a África Negra no comércio triangular essencialmente como fornecedora de mão-de-obra escrava para as colônias americanas e antilhanas. O destino dos barcos negreiros eram os portos da Jamaica, Bahamas, Haiti, Saint- Eustatius, Saba, Saint-Martin, Barbuda e Antígua, Guadalupe, Granada, Trinidad & Tobago, Bonaire, Curaçao e Aruba. Das Antilhas partiam outras levas em direção às Carolinas e à Virgínia nos Estados Unidos. Outras se dirigiam ao Norte e Nordeste do Brasil, à Bahia e ao Rio de Janeiro. Os escravos eram usados como “carvão humano” nas grandes plantações de açúcar e tabaco que se espalhavam do Leste brasileiro até as colônias do Sul dos Estados Unidos: do Rio de Janeiro até a Virgínia.
Enquanto a Europa importava produtos coloniais, trocava suas manufaturas (armas, pólvora, tecidos, ferros e rum) por mão-de-obra vinda da África. Os escravos eram a moeda com que os europeus pagavam os produtos vindos da América e das Antilhas para não precisar gastar os metais preciosos, alicerce de toda a política mercantilista. Tinham por isso, sob ponto de vista econômico uma dupla função: eram valor de troca (dinheiro) e valor de uso (força de trabalho).
Um dos capítulos mais apaixonantes, polêmicos e gloriosos, da história moderna foi o que conduziu à abolição do trafico negreiro e a total supressão da escravidão no decorrer do século XIX. A primeira reação contra a escravidão aconteceu no século XVIII, partindo de uma seita protestante radical, os Quakers. Eles consideravam-na um pecado e não podiam admitir que um cristão tirasse proveito dela. Enviaram, em 1768, ao parlamento de Londres uma solicitação pedindo o fim do tráfico de escravos. Pouco depois, John Wesley, o fundador do movimento metodista, pregou contra a escravidão (Thoughts upon Slavery, 1774) assegurando que optava ver as Índias Ocidentais (como eram denominadas as colônias antilhanas inglesas) afundarem do que manter um sistema que “violava a justiça, a misericórdia, a verdade”.
Economistas esclarecidos também entraram na luta. Tanto os Fisiocratas franceses como Adam Smith, o pai do capitalismo moderno, (in Wealth os the Nations, 1776) afirmaram que a escravidão era deficitária na medida que empregava uma enorme quantidade de capital humano que produzia muito abaixo do que poderia ser gerado por homens livres. Viam-na como parte de um sistema de monopólio e privilégio especial, onde um homem desprovido de liberdade não tinha nenhuma oportunidade de garantir a propriedade do que quer que fosse, e que seu interesse em trabalhar era o mínimo possível. Assim a escravidão só podia sobreviver pela violência sistemática do senhor sobre o cativo. Antecedente a ele, nas colônias americanas, Benjamin Franklin foi o primeiro homem moderno a submeter à instituição da escravidão a uma analise contábil, concluindo também que um escravo era muito mais caro do que um trabalhador livre. Alexis de Tocqueville, o grande pensador liberal francês, que visitou os Estados Unidos, deixou páginas memoráveis no seu “A Democracia na América”, de 1835, ao fazer a comparação entre os estados escravistas (povoados por brancos indolentes e negros paupérrimos) e aqueles que mantinham o trabalho livre, ativos e industriosos.
No plano filosófico ela foi repudiada na obra de Montesquieu (L’esprit de les Lois, livro. XV,1748), onde afirmou que “a escravidão, por sua natureza, não é boa: não é útil nem ao senhor nem ao escravo: a este porque nada pode fazer de forma virtuosa; aquele porque contrai dos seus escravos toda a sorte de maus hábitos... porque se torna orgulhoso, irritável, duro, colérico, voluptuoso e cruel. (...) os escravos são contra o espírito da constituição, só servem para dar aos cidadãos um poder e um luxo que não devem ter.”
Mais radical do que ele foi o pensamento de J.J. Rousseau (in Le Contrat Social, 1762) para quem “os homens haviam nascido livres e iguais” e que a renuncia da liberdade equivalia a renúncia da vida. Como a escravidão repousava sempre a força bruta “...os escravos não tinham nenhuma obrigação ou dever para com os seus amos”.
Apesar de Condorcet lastimar que só uns poucos filósofos “atreveram-se de vez enquanto a soltar um grito a favor da humanidade”, a soma das pressões religiosas, econômicas, filosóficas e morais começaram a surtir efeito. O Século das Luzes, como o século XVIII foi chamado, acabou por condenar a escravidão como atentatória à dignidade do homem, A Revolução Francesa de 1789 aboliu com a escravidão nas colônias francesas por acreditá-la incompatível com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Napoleão, porém, mais tarde, restaurou-a. Mas em 1848 ela foi finalmente reafirmada.
Na Inglaterra o abolicionismo encontrou respaldo num grupo militante chamado de “Os Santos” (The Saints), que organizaram, em 1787, sob liderança de William Wilberforce, a Sociedade anti-escravista (Anti-slavery Society). Graças as suas batalhas parlamentares contra os interesses escravistas das cidades portuárias de Liverpool e Bristol, Wilberforce conseguiu fazer aprovar a lei de 1807 que proibia o tráfico negreiro.
Depois de uma série de leis intermediárias, a abolição completa da escravidão nas colônias ingleses, ocorreu finalmente em agosto de 1834 (Slavery Abolition Act) que libertou 776 mil homens, mulheres e crianças. Nesse período a Inglaterra havia declarado guerra aberta ao tráfico. Nenhum barco negreiro poderia mais singrar os oceanos sem ser vistoriado (Aberdeen Act). Se fosse capturado, os escravos deveriam ser devolvidos. Por pressão inglesa, o Brasil finalmente concordou em abolir com o tráfico pela Lei Eusébio de Queirós, em 1850. Mesmo assim continuou recebendo,por meio de desembarques clandestinos, escravos contrabandeados, o que gerou sérios atritos com a marinha inglesa.
Na verdade, a primeira razão material da abolição foi o nascimento da sociedade industrial, surgida pelos efeitos sócio-econômicos provocados pela introdução da máquina a vapor no processo produtivo.. Essa sociedade, que se expandia a partir do século XVIII, produzia mercadorias em série para consumo em massa. Uma comunidade de escravos não consumia pois não ganhava salários. Houve então um conflito estrutural e ideológico entre a crescente e poderosa sociedade industrial, que solicitava mercados livres e trabalho assalariado, com a política mercantilista de mercados cativos e mão-de-obra escrava.
Esta ponderação, que afirma ser a escravidão anti-econômica sob o prisma moderno, continua gerando polêmica. Historiadores econômicos conservadores norte-americanos, como R.W.Fogel, insistem em afirmar que a escravidão não era incombinável com a industrialização. Apresentando uma série de abordagens precisas demonstrando a prosperidade de certos setores industrias sulistas.
A partir do momento que o continente africano não podia mais fornecer escravos, o interesse das potências colonizadoras inclinou-se para a sua ocupação territorial. E isso se deu por dois motivos, o primeiro deles é que almejavam explorar as riquezas africanas, minerais e agrícolas, existentes no hinterland, até então só parcialmente conhecidas. O segundo deveu-se à competição imperialista cada vez maior entre elas, de maneira especial após a celebração da unificação da Alemanha, ocorrida em 1871. Por vezes chegou-se a ocupar extensas regiões desérticas, como a França o fez no Saara (chamando-o de França equatorial), apenas para não deixa-las para o adversário.
Antes da África ser dominada por funcionários metropolitanos, a região toda havia sido dividida entre várias companhias privadas que tinham concessões de exploração. Assim a Guiné estava entregue a uma companhia escravista francesa. O Congo, por sua vez, era privativo da Companhia para o Comércio e Industria, fundada em 1889, que dividia-o com a companhia Anversoise, de 1892 .O Alto Níger era controlado pela Companhia Real do Níger, dos britânicos. A África Oriental estava dividida entre uma companhia alemã, dirigida por Karl Peters, e uma inglesa, comandada pelo escocês W.Mackinnon. Cecil Rhodes era o chefe da companhia sul-africana que explorou a atual Zâmbia e Zimbawe, enquanto o rei Leopoldo II da Bélgica autorizava a companhia de Katanga a explorar o cobre do Congo belga.
Atendendo ao convite do chanceler do II Reich alemão, Otto von Bismarck, 12 países com interesse na África encontraram-se em Berlim, entre novembro de 1884 a fevereiro de 1885 para a realização de um congresso. O objetivo de Bismarck era que os demais reconhecessem a Alemanha como uma potência com interesses em manter certas regiões africanas como protetorados. Além disso acertou-se que o Congo seria propriedade do rei Leopoldo II da Bélgica (responsável indireto por um dos mais terríveis genocídios de africanos), transformado porém em zona franca comercial. Tanto a Alemanha, como a França e a Inglaterra combinaram reconhecimentos mútuos e acertaram os limites das suas respectivas áreas. O congresso de Berlim deu enorme impulso à expansão colonial, sendo complementado posteriormente por acordos bilaterais entre as partes envolvidas, tais como Convênio franco-britânico de 1889-90, e o Tratado anglo-germânico de Heligoland, de 1890. Até 1914 a África encontrou-se totalmente divida entre os principais países europeus (Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica, Portugal e Alemanha). Com a derrota alemã de 1918, e obedecendo ao Tratado de Versalhes de 1919, as antigas colônias alemãs passaram à tutela da Inglaterra e da França. Também, a partir desse tratado, as potências comprometeram-se a administrar seus protetorados de acordo com os interesses dos nativos africanos e não mais com os das companhias metropolitanas. Naturalmente que isso ficou apenas como uma afirmação retórica.
A conquista da África foi entremeada de perseverante resistência nativa. A mais célebre delas foram as Guerras Zulus, travadas no século XIX pelo rei Chaka na África do Sul, contra os ingleses e os colonos brancos boers. Neste período, os colonizadores começaram a combater as epidemias e doenças tropicais que dificultavam a vida dos europeus através do saneamento e da difusão da higiene. A África era temida pelas doenças tropicais: a febre amarela, a malária e a doença do sono, bem como da lepra. O continente, além disso, ocupado por missões religiosas, tanto católicas como protestantes. Junto com o funcionário colonial, o aventureiro, o fazendeiro, e o garimpeiro branco, afirmou-se lá, em caráter permanente, o padre ou o pastor pregando o evangelho.
Essa ocupação aberta provocava angústia entre os africanos que se sentiam inferiorizados e impotentes diante a capacidade administrativa, militar e tecnológica, do colonizador europeu. Já na metade do século XIX, o afro-americano Edward W. Blyden, que emigrara para a Libéria em 1850, descontente com a perda da auto-estima dos negros, proclamava a existência de uma “personalidade africana” com méritos e valores próprios, contraposta a dos brancos. E, imitando James Monroe, lançou o slogan “África para os africanos!”.
Em 1919 reuniu-se em Paris, o 1º Congresso Pan-africano, organizado pelo intelectual afro-americano W.E.B. Du Bois. Ele reivindicou um Código Internacional que garantisse, na África tropical, o direito dos nativos, bem como um plano gradual que conduzisse à emancipação final das colônias. Não obstante que, para os negros americanos, era solicitado a aplicação dos direitos civis, que só foram finalmente aprovados pelo congresso dos E.U.A. em 1964.
O último congresso Pan-africano, o 5º, reuniu-se em Manchester, na Inglaterra, nos dias 15 à 18 de outubro de 1945, tendo a presença de Du Bois, Kwane Nkurmah, futuro emancipador da Ghana, e Jomo Kenyatta, o líder do Quênia. Trataram de proclamar a necessidade da formação de movimentos nacionalistas de massas para obterem a independência da África o mais rápido possível.
 A descolonização tornou-se possível após-1945 devido à dissipação em que as antigas potências coloniais se encontravam ao terem-se despedaçado em seis anos de guerra mundial, de 1939 a 1945. Algumas delas, como a Holanda, a Bélgica e a França, foram ocupadas pelos nazistas, o que acelerou ainda mais a decomposição dos seus impérios no Terceiro Mundo. A guerra também as fragilizou ideologicamente: como podiam elas manter que a guerra contra Hitler era uma luta universal pela liberdade contra a opressão se mantinham um estatuto colonial opressor de milhões de asiáticos e africanos?
A Segunda Guerra Mundial debilitou a mão do opressor colonial, instigou o nacionalismo dos nativos do Terceiro Mundo. Os povos asiáticos e africanos foram acometidos pela impaciência com sua situação jurídica de inferioridade, considerando cada vez mais intolerável o domínio estrangeiro. Os europeus, por outro lado, foram tomados por sentimentos contraditórios de culpa por manterem-nos explorados e sob sua tutela, resultado da influencia das idéias filantrópicas, liberais e socialistas, que remontavam ao século XVIII. Haviam perdido, depois de terem provocado duas guerras mundiais, toda a superioridade moral que, segundo eles, justificava seu domínio.
Quem primeiramente conseguiu a independência foram os povos da Ásia começando pela Índia e pelo Paquistão, em 1946. A tendência de independência atingiu a África somente em 1956. O primeiro pais do Continente Negro a conseguí-la foi Ghana, em 1957. No geral podemos separar o processo de descolonização africano em dois tipos: Aquelas regiões que não tinham nenhum produto estratégico (cobre, ouro, diamantes ou petróleo) conseguiram facilmente sua autonomia, obtendo-a por meio da negociação pacífica. E, ao contrário, as que tinham um destes produtos, considerados estratégicos pela metrópole, explorados por grandes corporações, a situação foi diferente, o caso do petróleo na Argélia e do cobre no Congo belga. Neles os colonialistas resistiram aos movimentos autonomistas, ocorrendo movimentos de guerrilhas para expulsá-los.
Apesar da existência de 800 etnias e mais de mil idiomas falados na África, podemos encontrar alguns denominadores comuns entre os partidos e movimentos que lutaram pela descolonização : O primeiro deles é de que todos eles almejavam a independência, conquistada tanto pela vertente de radicalismo revolucionário ou através do reformismo moderado, que tanto podia implantar uma republica federativa como uma unitária.
Em geral, os partidos optaram pelo centralismo devido à dificuldade em obter consenso entre tribos rivais. Esse centralismo é geralmente assumido pelo próprio líder da emancipação,como Nkrumah em Ghana, pelo partido único ou “partido dominante” como definiu-o Leopold Senghor, do Senegal ou ainda, por um ditador militar como Idi Amin Dada em Uganda, ou Sese Seko Mobuto no Zaire. A negritude, movimento aberto por Aimé Césaire, um poeta martinicano, e pelo presidente senegalês Leopold Senghor foi também um ponto em comum, assinalado entre os países afro-francofônicos, que exaltavam as qualidades metafísicas dos africanos. Por fim todos manifestavam-se a favor do pan-africanismo como uma aspiração de formar governos “por africanos e para africanos, respeitando as minorias raciais e religiosas”.
Na medida em que em toda a história da África anterior ao domínio europeu, desconhecia-se a existência de Estados - Nacionais, segundo a concepção clássica : unidade, homogeneidade e delimitação de território; entende-se a enorme dificuldade encontrada pelas elites africanas em constituí-los em seus países. Existiam anteriormente na África, impérios, dinastias governantes, milhares de pequenos chefes e régulos tribais, mas em nenhuma parte encontrou-se Estados - Nacionais. O que havia era uma intensa atomização política e social, um faciosismo crônico, resultado da existência de uma infinidade de etnias, de tribos, quase todas inimigas entre si, de grupos lingüísticos diferentes, só no Zaire existem mais de 40, e de incontáveis castas profissionais. O fim da Pax Colonialis, seguida da independência, provocou, em muitos casos, o afloramento de antigos ódios tribais, de antigas rivalidades despertadas pela proclamação da independência, provocando violentas guerras civis, como as da Nigéria, do Congo e, mais recentemente, as da Angola, Moçambique, Ruanda, Burundi, Serra Leoa e da Libéria.
Essas lutas geraram um registro de instabilidade em grande parte do Continente que colaborou para separar os investimentos necessários ao seu progresso. Hoje a África, com exceção da África do Sul, Nigéria e o Quênia, encontra-se praticamente abandonada pelos interesses internacionais. Os demais parecem ter mergulhado numa interminável guerra tribal, provocando milhões de foragidos, e um número quase incalculável de mortos e feridos. A África é seguramente a parte do mundo onde mais guerras são travadas, assim como em Israel e na maior parte do Oriente médio, para não dizermos quase totalidade. Como um incêndio na floresta, encerra-se a luta numa região para logo em seguida arder uma mais trágica logo adiante.
De certa maneira, todos os povos saldam pelos seus defeitos culturais. Neste sentido o enraizado tribalismo africano é a grande barreira para consolidar a formação de um Estado-Nacional firme. Enquanto as massas negras não conseguirem superar as rivalidades internas dificilmente poderão formar regimes sólidos, íntegros, que superem a dicotomia entre ditadura ou anarquia tribal. A grande geração que conseguiu a independência, homens como K.Nkrumah, Jomo Kenyatta, Agostinho Neto, Samora Machel, Kenneth Kaunda, Julius Nyerere, Leopold Senghor ou Nelson Mandela, está morta ou estes heróis envelheceram. Nenhum dos sucessores desses grandes homens, têm conseguido o respeito da população e o carisma necessário para manter seus respectivos países unidos. Em muitos casos eles foram substituídos por chefes dominados por interesses localistas e familiares, de visão estreita, sem terem o significado de abrangerem o restante dos seus cidadãos. É hora dos líderes africanos pararem de jogar pedras sobre o passado colonial e assumirem a responsabilidade pelo destino dos povos que ajudaram a emancipar.

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