sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Poema Manifesto

Poemanifesto do movimento negro
Hermógenes de Almeida Filho
Muitos fatos sucederam-se em diversas direções
Abolicionistas e poetas deram sua contribuição
Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Luiz Gama, Castro Alves

Desde meados do século XIX, a Revolta dos Malês
Liberada por Luiza Mahin, desafiava a monarquia dos Senhores de Escravos,
Exigindo o fim dos maus tratos da vergonhosa escravidão.

Sudeneses, Bantos, Congoleses, Fulas, Tapas, Mandingas
Todos misturados em etnias e línguas
Yorubá, Gêge-Nagô, Haussá, Hhosa, Songhai, Ashanti Kiswahili, Sotho, Kibundo, Bakomgo, Ovimbundo, Peul, Lingada.


Agrilhoados pelos preadores de negros
Capitães-do-mato como Domingos Jorge Velho agiram no Brasil e em África capturando, humilhando, espancando, dizimando as peças que fugissem na ponta do chicote e pelo fogo do bacamarte.

Presos nos ferros ou no pelourinho ardiam aos açoites que estalavam a cada grito do capataz
O banzo e o sumidô coletivo pairava em toda viagem nos tumbeiros
O dia-a-dia escravo na senzala era cantar vissungos
e muita lamba na moagem da cana ou nos cafezais.


Séculos se passaram com o negro na lamba da produção agrícola na mineração ou nos afazeres domésticos no artesanato ou na lamba pesada nos terreiros ou nos quilombos.


Abolicionista e revolucionários transformaram as condições histórico-sociais da formação brasileira:
A Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, sob pressão
Serviu de pano de fundo ao teatro monárquico decadente.


Veio a República que não foi feita para o povo nem pelo povo
Obedecendo à evolução da história, a República foi tramada
por militares, fazendeiros, liberais e conservadores
Todos farinha do mesmo saco!


Mudou-se o regime e o modo de produção deixou de ser escravista para ser assalariado
Empregos foram criados e ocupados por imigrantes estrangeiros
Os afro-brasileiros ficaram marginalizados
Seria necessário um novo Palmares?
Um chefe-de-campo de Macaco, General das Armas
e rei de N’gola Djanga, ZUMBI




A República comunitária palmarina resistiu um século inteiro
Constituída de numerosos negros, índios e mulatos bravos guerreiros em liberdade
Participavam de um sistema de produção policultor para subsistência e comércio


Muitos não sabem mas, Palmares foi a capital do Brasil quando de ocupação holandesa em Pernambuco e na Bahia
No entanto, nosso herói e mártir foi traído e morreu assassinado
por Antônio Soares tal qual Calabar


Os afro-brasileiros sem emprego, sem moradia, sem cidadania
sobreviveram de bicos, biscates e ocuparam muquiços, cortiços, mocambos, alagados e favelas.


Com a FNB, ressurgiu Palmares!
A Frente Negra Brasileira, inspirada e dirigida por Arlindo V. dos Santos reuniu mais de 200 mil negros nos anos 30
Havia quadros políticos e militares,
No entanto, foi extinta por um golpe de Estado, a ditadura de Vargas não tardou em ver
Um grande perigo na arregimentação da população negra
Enfim, no aspecto político-militar, quantos negros se destacaram?





André Rebouças combateu heroicamente na Guerra do Paraguai
João Cândido expulsou a chibata da Marinha e humanizou seu tratamento
Grandes lideranças negras plantaram sementes no campo
do desenvolvimento social e democrático do país


Ao longo dos anos da 2a Grande Guerra Mundial grande número de negros tomaram parte da FEB Força Expedicionária Brasileira combatendo ao nazi-fascismo na Itália


Na política e nas artes surge Abdias Nascimento, o TEN
Teatro Experimental do Negro, Arena Conta Zumbi
O Comitê Democrático Afro-Brasileiro criado na luta pela anistia obriga a inclusão das reivindicações negras na Constituição


Em África, movimentos revolucionários adotaram a luta armada como única arma possível para a libertação do colonialismo que etnocentricamente tomava as diferenças em desigualdades


O fogo da ancestralidade reacendeu-se nas consciências da negritude


O Partido Africano para a Independência da Guiné (Bissau)
e do Cabo (Verde) – PAGC – liderado por Amílcar Cabral,
O Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA –
liderado por Agostinho Neto,
A Frente de Libertação de Moçambique - FRELIMO –
Liderada por Samora Machel,
Muitos líderes estão encarcerados como Nelson Mandela do ANC
Congresso Nacional Africano na África do Sul


Muitos tombaram como o maior dos pensadores africanos Cabral,
Eduardo Mondlane, Patrice Lumumba e membros da SWAPO na Namíbia
Mas a LUTA CONTINUA, no combate ao “apartheid” sul africano
No Brasil, o capitalismo firmou-se com a instalação do seu parque industrial,
Vargas se suicida, mas não morre o populismo petebista



Surge JK e a arte brasileira floresce: Sinhô, Dorival Caymmi, Pixinguinha, João Gilberto, Cartola, Lamartine Babo, Grande Otelo e outros grandes artistas populares


A comunidade afro-brasileira no carnaval e no futebol
Manifesta seus sentimentos oprimidos
Os militares tramam a “Redentora”
Depõem João Goulart e massacram expressivas lideranças sindicais e populares antes que forjassem um novo destino para o país

Mas a LUTA CONTINUA, há uma renovação na produção artístico-cultural
Procuram-se formas alternativas que apontem um novo rumo
para o movimento popular


Surge o tropicalismo e volta a girar a bússola cultural
A guerrilha urbana e camponesa toma conta do país que vai pra frente!


Mas a LUTA CONTINUA, no movimento negro que procura formas concretas de expressão
Surgem os grêmios recreativos e entidades de pesquisas
A poesia de Solano Trindade ecoa no movimento das consciências
O autodidata e saudoso Olímpio Marques ordena: LIBERTA-TE NEGRO


Eduardo Oliveira Oliveira, morre precocemente mas presta grande colaboração ao movimento sociológico negro
A socióloga Lélia Gonzalez lidera importantes propostas do movimento negro contra a discriminação racial


Mulheres de favelas e periferia acontecem na luta pela procriação
A imprensa negra bota banca: Favelão, Ébano, Frente Negra
Surgem o IPCN, MNU, ICBRAF, SINBA, CEAA, GTAR, GRANES no Rio em Salvador o Ilê Aiyê, Badauê, Male de Balê
Os afoxés afro como os Filhos de Gandhi dão a volta por cima
no processo de reafricanização do carnaval baiano
O Movimento sobe a Serra da Barriga e realiza a Missa dos Quilombos


DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Desmistificando a “democracia racial” e o “13 de maio”
que caíram no descrédito das palavras vazias


O movimento Black Power enche as discotecas, ganha as páginas dos jornais as vitrolas que só tocavam James Brown
também tocam Bob Marley e Jimmy Cliff


No Brasil verde amarelo, o “vermelho rasta” corre no sangue da massa
O samba vadeia na voz de Clementina, se adoça na voz de Paulinho e se assume na voz de Martinho


O jongo e o caxambu nossa matriz do reggae, está vivo
Na serrinha e no Salgueiro
A consciência da negritude ganha espaço,
Surge o Olorum Baba-Min, Vissungo e Agbara Dudu


Expressões afro-musicais da cultura negra no Brasil
Dezenas de grupos negros unem-se como há milênios eram Brasil-África

No Rio, as eleições mudaram a face do governo e a força do poder
Secretários de Estado negros estão assumindo a luta de libertação


No parlamento Abdias e Benedita da Silva abrem caminho Bené pela sua atuação ligada e voltada para as comunidades faveladas e periféricas Abdias pela maturidade e persistência
Na luta contra o racismo


Mas a LUTA CONTINUA

Seja o que os Orixás desejarem. Axé!

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