segunda-feira, 4 de abril de 2011

Fábulas de Esopo


Fábulas De Esopo

Esopo era um escravo que viveu na Grécia há uns três mil anos. Tornou-se famoso pelas suas pequenas histórias de animais, cada uma delas com sentido e um ensinamento, e que mostram como proceder com inteligência. Os seus animais falam, cometem erros, são sábios ou tolos, bons ou maus, exatamente como os homens. A intenção de Esopo, em suas fábulas, é mostrar como nós podemos e devemos agir.
Não se sabe muito a respeito da vida de Esopo, até mesmo porque outros fabulistas receberam o seu nome e as histórias de suas vidas se misturaram.
As fábulas de Esopo, contadas e readaptadas por seus continuadores, como Fedro, La Fontaine e outros tornaram-se parte de nossa linguagem diária. Quando, por exemplo, nos esforçamos muito para obter algo e não conseguimos, dizemos que tal coisa “está verde”, ou seja, usamos a mesma expressão que a raposa usou quando não conseguiu as uvas...
Esopo nunca escreveu suas histórias. Contava-as para o povo que por sua vez, se encarregou de repeti-las. Só duzentos anos depois de sua morte é que as fábulas foram escritas. Em outros países além da Grécia, em outras épocas, sempre se inventaram fábulas, que permaneceram anônimas. No Brasil, quando dizemos que “macaco velho não mete a mão na cumbuca!”, estamos repetindo o ensinamento de uma fábula é um conto de moralidade popular, uma lição de inteligência, de justiça, de sagacidade, trazida até pelos nossos Esopos.

1. A RAPOSA E AS UVAS
Uma raposa faminta entrou num terreno onde havia uma videira repleta de cachos de uvas maduras, que se penduravam, muito alto, acima de sua cabeça. A raposa não podia resistir à tentação de chupar aquelas uvas, mas por mais que pulasse, não conseguia abocanhá-las. Cansada de tanto pular, olhou mais uma vez os apetitosos cachos e disse:
- Estão verdes...
“É fácil desdenhar daquilo que não se consegue.”



2. O HOMEM E O LEÃO
Viajavam juntos um homem e um leão. O homem quis puxar conversa com o leão e disse:
- Eu sou mais forte que você!
O leão retrucou:
- Eu sou ainda mais forte que você!
No meio da discussão, o homem viu uma estátua que representava um homem esganado um leão.
- Olhe lá! – disse ele – Observe como o homem é mais forte! Aquela estátua prova que eu estou com a razão!
O leão retrucou:
- Se a estátua tivesse sido feita por um leão, seria o leão quem estaria esganado o homem!
“A conclusão de um história depende de quem conta.”


3. O GALO E A JÓIA
Um galo estava ciscando no terreiro e, no meio da sujeira, encontrou uma jóia.
- Ah – disse, triste, o galo – como o meu dono ficaria feliz se encontrasse esta jóia! Para mim, porém, ela é completamente inútil; eu preferiria ter achado um sabugo de milho...
“O que para uns tem valor, para outros nada vale.”

4. O CERVO E O LEÃO
Num belo dia de verão, um cervo aproximou-se perto de um regato para beber água. Quando inclinou a cabeça, viu na água a própria imagem e exclamou, orgulhoso:
- Nossa! Como eu sou bonito e que bonitos são meus chifres!
Chegando mais perto, viu o reflexo de suas próprias pernas dentro da água:
- Ah, como são finas as minhas pernas... – observou com tristeza.
Nesse momento surgiu um leão que saltou sobre o cervo. Então, o cervo disparou pela campina com tanta velocidade que o leão não conseguiu pegá-lo. Aí o cervo entrou na floresta e seus chifres se embaraçaram nos galhos das árvores. Em poucos instantes o leão saltava sobre o prisioneiro.
- Ai, ai! – gemeu o cervo – Senti orgulho dos meus chifres e desprezei minhas penas... No entanto, as pernas me salvariam e os chifres causaram minha perda...
“Muitas vezes não enxergamos o que temos de melhor.”


5. A RAPOSA E O BODE
Uma raposa meteu-se num poço fundo e não havia meios de sair de dentro dele. Um bode sedento aproximou-se e viu a raposa.
- Amiga raposa – perguntou – que é que você faz aí?
A raposa não quis passar por tola e respondeu:
- Entrei para beber esta água deliciosa! Como você é meu amigo, deixarei beber também.
O bode estava com tanta sede que nem refletiu; atirou-se dentro do poço. Imediatamente, a raposa saltou na garupa do bode, subiu pelos chifres e saiu do poço.
- Agora ajude-me a sair! – gritou o bode.
A raposa gritou para dentro do poço:
- Se tivesse miolos na cabeça, em vez de chifres, não teria saltado dentro do poço sem pensar em como sair!
“Antes de agir, pense no que vai fazer.”

6. O LEÃO E OS TOUROS
Um leão entrou num pasto onde pastavam alguns touros. Tentou várias vezes agarrá-los mas sempre errava o bote porque, ao chegar perto, os touros se colocavam uns junto aos outros, em roda, de modo que seus chifres ameaçavam espetar o leão.
Um dia, entretanto, os touros brigaram e cada um foi pastar para um lado. O leão aproximou-se e, atacando-os um a um, destroçou-os.
“A união faz a força.”


7. O BURRINHO BRINCALHÃO
Um macaco subiu num telhado e ali começou a dançar. O dono do prédio achou muita graça daquelas danças e cambalhotas. No dia seguinte, o burro subiu no mesmo telhado e, dançando, quebrou várias telhas. O dono do prédio veio ao encalço do burro e expulsou-o de cima do telhado, surrando-o com um pedaço de pau.
- Por que me bates? – perguntou o burro. – Ontem o macaco fez a mesma coisa e tu apenas riste!
- É verdade – respondeu o homem. – Mas era diferente.
“A vida às vezes é injusta e o que vale para um pode não valer para o outro.”


8. O LOBO E O CÃO DOMÉSTICO
Um dia um lobo encontrou um cão bem nutrido. Viu que o cão usava uma grossa coleira e lhe perguntou:
- Quem te alimentou tão bem?
- Meu dono, o caçador – respondeu o cão.
- E que é isso que tens no pescoço? – perguntou ainda o lobo.
- A coleira com que ele me prende – respondeu ainda o cão.
- Prefiro a fome a perder minha liberdade – disse o lobo.
“Tudo na vida tem seu preço.”

9. A RAPOSA SEM RABO
Certo dia, passeando pela floresta, a raposa foi apanhada numa armadilha. Conseguiu escapar, mas ali teve de deixar a sua linda cauda. Envergonhada de aparecer sem seu belo ornamento, escondeu-se na floresta e não se mostrava pra ninguém.
Assim passaram-se dias, enquanto ela pensava em como se apresentar perante as outras raposas...
Veio-lhe então uma idéia: correu para onde estavam as outras e gritou:
- Olhem-me, queridas amigas! Já não tenho mais rabo! Felizmente estou livre daquele horrível penacho! Vejam como estou bonita! Se vocês quiserem ficar tão bonitas quanto eu, posso cortar o rabo de todas vocês!
- Irmã raposa – respondeu a mais ajuizada delas -, se nós tivéssemos perdido nossas caudas, estaria você disposta a ver-se livre da sua?
“A desgraça gosta de companhia.”


10. O CAÇADOR E O LENHADOR
Certo dia, o caçador procurava o rastro de um leão, tanto procurou que encontrou um lenhador, que apanhava galhos. Com cara de valente, perguntou:
- Diga-me aqui, meu amigo, será que você viu por aqui as pegadas de um leão?
O lenhador respondeu:
- As pegadas? Posso mostrar a você onde fica a gruta do leão. Vamos até lá.
O caçador tremeu de medo e guaguejou:
- Oh, nnnnã... não. Nnnnã... ao qqq... quero vvver o lllleão, qqq... quero só vvvver o rrastro dddele!
- Ora, vejam só! E você pensa que é caçador! – exclamou o lenhador.
“A coragem não só se mostra com palavras, mas com fatos.”

11. O CARVALHO E O JUNCO
Um enorme carvalho virou-se um dia cercado por um violento furacão que o arrancou do solo e o atirou na correnteza, onde caiu entre alguns juncos. Ele disse, tristemente:
- Como isto é possível? O furacão me arranca do chão, com raízes e tudo, e não arranca esses magros juncos?
- És que és orgulhoso demais – disse um dos juncos – e não sabes curvar-te como nós!
“Em certas situações, é melhor curvar-se do que quebrar.”


12. O BURRO, O GALO E O LEÃO
Um burro e um galo viviam em perfeita harmonia. Certo dia, um leão faminto passou pela fazenda onde eles moravam. Quando o leão viu o burro, seus olhos se arregalaram:
- Oba! Que burro apetitoso!
Quando ia saltar sobre o burro, o galo botou a boca no mundo, isto é botou o bico no mundo. O leão, assustado com a gritaria tratou de ir embora. O burro disse ao galo:
- Que leão covarde! Embora sendo o rei dos animais, fugiu de um simples galo!
E começou a zombar do leão. Zombou e afastou-se tanto da fazenda que o leão reapareceu, saltou sobre ele e ninguém pôde salvá-lo.
O galo, que assistia a tudo do alto do telhado da fazenda, refletiu:
- Pobre do meu amigo... não sabia o que era capaz ou incapaz de fazer...
“A falsa confiança em si pode levar à desgraça.”

13. JÚPITER E A ABELHA
A rainha Abelha queria oferecer mel ao deus Júpiter. Recolheu o mel das melhores colméias e voou com ele ao Monte Olimpo. O deus gostou tanto do presente que prometeu dar à abelha qualquer coisa que ela quisesse.
- Oh, Júpiter todo-poderoso! – exclamou a abelha. – Dê-me um ferrão tão forte que com ele eu possa matar quem se aproximar para roubar meu mel!
Júpiter não gostou de ver a abelha com tamanho desejo de vingança. Mas não podia recuar de sua promessa. Disse então à abelha:
- Vou lhe dar um ferrão. E quando você atacar, a picada será mortal.
A rainha Abelha já ia agradecer a Júpiter, quando o deus acrescentou:
- Mas a picada será mortal também para você! Quando usar o ferrão, ele se quebrará e você morrerá!
“Quem deseja ou faz o mal acaba recebendo de volta o mal.”


14. O CÃO NA MANJEDOURA
Um cão, ao procurar um bom lugar para dormir, entrou no estábulo vazio. Tudo estava tão quieto e agradável que se deitou no capim e tirou uma boa soneca.
Algumas horas se passaram e chegou o boi, de volta do campo. Veio com fome. Seus passos acordaram o cão, que logo começou a latir, furioso. Cada vez que o boi tentava aproximar-se para comer, o cão investia contra ele.
O boi era paciente, disse:
- Meu caro, assim nem eu como nem você dorme...
“Há quem só tenha prazer em tirar o prazer dos outros.”


15. O LEÃO E O JAVALI
Num dia muito quente, um leão e um javali chegaram juntos a um poço. Estavam com muita sede e começaram a discutir para ver quem beberia primeiro. Nenhum cedia a vez ao outro. Já iam atraca-se quando o leão olhou para cima e viu vários urubus voando.
- Olhe lá! – disse o leão. – Aqueles urubus estão com fome e estão esperando para ver qual de nós dois será derrotado...
- Então é melhor fazermos as pazes – respondeu o javali. – Prefiro ser seu amigo do que comida de urubus.
“Diante de um perigo maior, é melhor esquecermos as pequenas rivalidades.”


16. O MOSQUITO E O TOURO
Um mosquito pousou no chifre de um touro e lá ficou por muito tempo. Depois, como queria ser notado, voou e perguntou ao touro:
- O meu peso não o incomodou, senhor Touro? Basta dizer e não o incomodarei mais...
- Pra falar a verdade – respondeu o touro – eu nem tinha notado a sua presença. Tanto pode ficar como pode ir-se embora...
“Nem sempre os outros nos dão a importância que pensamos ter.”


17. O MÁGICO
Havia um mágico muito afamado que lia a sorte das pessoas que passavam pela praça do mercado. Certa tarde, um homem correu na direção dele e lhe disse:
- Feiticeiro! Um ladrão invadiu a sua casa! Está roubando tudo o que é seu. Corra!
O mágico disparou, aflito. Um dos presentes gritou:
- Se você consegue adivinhar a sorte alheia, por que não consegue adivinhar a sua?
“É mais fácil ser sábio para com os outros do que consigo mesmo .”


18. JÚPITER, NETUNO, MINERVA E MOMO
Segundo uma velha lenda, o primeiro homem feito por Júpiter, o primeiro touro por Netuno, e a primeira casa foi feita por Minerva. Quando os deuses terminaram cada qual a sua obra, começaram a discutir para saber qual seria a mais perfeita. Não tendo chegado a um acordo, pediram a um Momo que os julgasse.
Momo, que não tinha talento criador, começou a apontar erros. Primeiro falou da obra de Netuno:
- Você devia ter posto os chifres do touro debaixo dos olhos. Como é que ele pode ver onde dará a chifrada?
Depois, disse a Júpiter:
- O homem devia ter o coração fora do corpo. Como é que s outros podem ver seus sentimentos?
E para Minerva:
- A casa que você fez devia ter rodas. Como é que os moradores poderão evitar vizinhos incômodos?
Júpiter concluiu, zangado, que Momo era invejoso e o privou do direito de julgar.
“O invejoso não vê méritos no que os outros fazem.”


19. A LEBRE E A TARTARUGA
Um dia, uma lebre se gabava de sua fantástica velocidade:
- Ninguém corre mais depressa do que eu! Sou mais veloz do que o vento! Desafio qualquer animal a correr comigo!
Ninguém se dispunha a aceitar o desafio, até que a tartaruga disse:
- Eu topo.
Todos riram, principalmente a lebre:
- Você espera vencer-me?
- Vamos ver...
Combinaram que correriam ao redor do bosque até voltarem ao ponto de partida.
Dado o sinal, a lebre disparou e desapareceu, enquanto a tartaruga começou a marchar lentamente.
Em pouco tempo, a lebre estava tão distante que resolveu descansar na relva macia. E dormiu. Ela passou a tartaruga, lentamente. E lentamente chegou ao final, antes da lebre.
“Paciência vale mais do que a pressa .”

20. O VIAJANTE VABOLA
Um jovem que viajara por muitos países voltou um dia à sua cidade. Ali não cessava de contar as coisas maravilhosas que vira e que fizera. Os outros escutavam:
- Uma vez, em Rodes, dei o salto mais alto do mundo! Ninguém saltou tão alto, até hoje! Tenho testemunhas desse salto!
Um dos compatriotas, cansado de ouvir sempre a mesma gabolice, retrucou-lhe:
- Se o que você diz é verdade, não precisa de testemunhas. Salte outra vez!
“Quem é mesmo capaz não precisa ficar se promovendo .”

21. O LOBO NA PELO DE CORDEIRO
Um lobo achou uma pele de cordeiro e vestiu-a, dizendo:
- Agora posso acompanhar o rebanho e escolher os melhores cordeirinhos para o meu jantar!
Estava tão bem disfarçado que nenhum cordeiro percebeu. Mas o pastor veio recolher um cordeiro para o jantar e agarrou justamente o lobo, pensando que pertencesse ao rebanho. E matou-o.
“O feitiço volta-se contra o feiticeiro .”

22. A RAPOSA E O LENHADOR
Uma raposa estava sendo perseguida por uma matilha de cães. Deparou com um lenhador, que cortava lenha no mato, e suplicou:
- Esconda-me por favor!
O lenhador escondeu-a em sua cabana.
Logo depois chegaram os caçadores com os cães. Um dos caçadores perguntou ao lenhador:
- Você não viu uma raposa por aqui?
O lenhador respondeu bem alto, para que a raposa pudesse ouvir:
- Não vi nenhuma raposa esta manhã...
E, enquanto falava, apontava para o lugar onde a raposa estava escondida. Mas os caçadores não entenderam o sinal e foram embora com os cães.
Assim que desapareceram, a raposa saiu do esconderijo e já ia correr, sem dizer nada, quando o lenhador exclamou:
- Como você é ingrata! Nem me agradece!
- Gostaria de agradecer a sua ajuda – retrucou a raposa – Mas sua mão não é tão caridosa quanto a sua boca!
“Um gesto mau destrói uma palavra boa.”

23. O CORVO E O JARRO
Um corvo morria de sede e se aproximou de um jarro, que uma vez vira cheio d’água. Mas, desapontado, verificou que a água estava tão baixa que ele não podia alcançá-la com o bico. Tentou derramar a água, virando o jarro, mas era impossível, pois ele era pesado demais.
De repente, viu ali perto um monte de pedrinhas. Apanhou com o bico uma das pedras e jogou dentro do jarro. Depois outra. E mais outra. E outra. E a cada pedrinha que jogava, a água subia. Jogou tantas pedras dentro do jarro que a água subiu até o gargalo. Então o corvo pôde beber.
“Onde a força falha, a inteligência vence.”

24. O CÃO MALVADO
Era uma vez um cão tão malvado que saltava em cima das pessoas para mordê-las e dificilmente alguém conseguiria escapar dele.
Muito aborrecido com isto, o dono pendurou um sino no pescoço do cão, que daria o alarme quando ele estivesse por perto. Primeiro, o cão se aborreceu com o barulho do sino; depois sentiu-se orgulhoso e começou a passear na praça para se exibir.
Então, um cão velho lhe disse:
- Por que tanta empáfia? Você acha que esse sino é um prêmio? Não percebe que é um aviso para que todos evitem você?
“Nem sempre ser conhecido é ser admirado.”


25. OS BOIS E O CARRETEIRO
Uma junta de bois puxava uma pesada carroça, num acidentado caminho. A cada volta nos eixos, as rodas de madeira gemiam. Impaciente com aquele barulho, o carreteiro gritou:
- Por que você faz tanto barulho, carroça? São dois bois que agüentam o teu peso, e no entanto estão calados!
Um dos bois murmurou para o companheiro do lado:
- O patrão tem razão.
“Nem sempre quem reclama é quem faz a força.”


26. O PESCADOR E O PEIXINHO
Um pescador estava pescando e, depois de ter ficado horas nessa pescaria, só conseguiu apanhar um peixe muito pequeno. O peixinho, então lhe disse:
- Poupe minha vida e jogue-me de novo no mar. Daqui a algum tempo, estarei crescido e você poderá pescar um peixe grande!
O pescador respondeu:
- Eu seria um bobo se soltasse você por uma pescaria incerta...
“Mais vale a certeza de hoje do que a incerteza de amanhã.”


27. O PASTORZINHO E O LOBO
Todos os dias, um jovem pastor levava um rebanho de ovelhas às montanhas perto da aldeia para que elas pudessem pastar. Um dia, por brincadeira, ele correu lá em cima gritando:
- Um lobo! Um lobo!
Os moradores da aldeia apanharam pedaços de pau para caçar o lobo. E encontraram o pastorzinho às gargalhadas, dizendo:
- Eu só queria brincar com vocês!
Vendo que a brincadeira realmente assustava os aldeões, no dia seguinte o pastor gritou de novo:
- Um lobo!
E novamente os moradores da aldeia trataram de apnhar suas armas de madeira.
O pastorzinho fez isso tantas vezes que as pessoas da aldeia não prestavam mais atenção aos seus gritos. Alguns dias se passaram e ele voltou a gritar:
- Um lobo! Um lobo! Socorram – me!
Ao ouvir aquilo, um dos homens disse aos outros:
- Eu já não acredito. Ele não nos engana mais.
Mas era um lobo de verdade, que dizimou todo o rebanho do pastorzinho.
“Ninguém acredita num mentiroso, mesmo quando ele diz a verdade.”


28. O MOLEIRO, O FILHO E O BURRO
Um dia de verão, o moleiro e seu filho saíram do moinho para vender um burrinho na feira da aldeia vizinha. No caminho, algumas moças começaram a rir deles.
- Que bobos vocês são! A criança poderia montar no burro, em vez de ir a pé num dia tão quente!
O moleiro fez o filho montar no burro e continuou andando ao seu lado. Logo chegaram perto de um grupo de velhos e um deles disse, apontando o moleiro, o filho e o burro:
- Ninguém mais respeita os velhos! Olhem só! Enquanto a criança vai montada no burro, seu velho pai quase cai de cansaço ao arrastá-lo.
Ouvindo o velho, o moleiro fez descer o filho da garupa do burro e ele mesmo montou o animal, continuando o caminho.
Mais adiante, chegaram junto a um grupo de mulheres e crianças. Uma das mulheres exclamou:
- Como pode um homem adulto ir montado num burro e deixar uma criancinha ir a pé?
O moleiro, então, colocou o filho em cima do burro. Logo à frente, de outro grupo surgiu um homem que gritou:
- Que malvados! Como podem maltratar assim um burrinho tão pequeno?
Envergonhado, o moleiro amarrou as pernas do burro e carregou-o nas costas, ajudado pelo filho.
Os moradores da aldeia riram às gargalhadas quando viram pai e filho carregando o burro. Riram tanto que o burrinho se assustou, começou a sacudir as pernas, as cordas que as amarravam arrebentaram, e ele caiu dentro do rio.
“Não se pode agradar a todos.”


29. O CAVALO, O CAÇADOR E O CERVO
Um cavalo pastava no campo. Um dia um cervo foi até ali e obrigou o cavalo a repartir a grama com ele.
- Este pasto é meu – disse o cavalo – mas você não quer sair dele!
Desejoso de vingança, pediu ajuda a um caçador que passava e este respondeu:
- Só posso caçar o cervo com a sua ajuda. Deixe que eu ponha este freio na sua boca e esta sela na sua garupa. Montado em você, poderei caçar o cervo.
O cavalo consentiu: o caçador selou-o, pôs-lhe o freio na boca, montou-o e falou:
- Agora você está sob meu poder e tem que me obedecer!
“Não se compra a liberdade com vingança.”


30. A VELHA E O MÉDICO
Uma velha, que já não enxergava, chamou um médico e lhe disse:
- Cure-me da minha cegueira e eu lhe pagarei bem. Mas se não me curar, nada pagarei. Concorda?
O médico aceitou. Toda semana ele vinha à casa dela e lhe aplicava nos olhos um remédio sem valor. Mas, a cada visita, ele carregava consigo alguma coisa dos móveis da velha. Com o passar do tempo, acabou levando tudo o que ela possuía.
Depois disso, o médico deu-lhe um remédio que a curou. A velha voltou a enxergar e viu que sua casa estava vazia e que não poderia pagar o médico. O médico, para cobrar, levou a velha aos tribunais.
Diante do juiz, a velha falou:
- o médico está dizendo a verdade. Concordei que lhe pagaria se recuperasse a visão. Ele concordou que eu não precisaria lhe pagar se permanecesse cega. Agora ele diz que estou curada. Eu digo que continuo cega, por que quando perdi minha visão minha casa estava cheia de objetos que agora não posso ver!
O juiz deu ganho de causa à velha.
“Quem está pronto a ganhar o que não merece, deve estar pronto a perder.”


31. O LOBO E A CEGONHA
Uma vez, quando um lobo estava jantando, um osso ficou preso em sua goela. Aflito, ele pediu à cegonha que ela enfiasse o bico dentro do pescoço e tirasse o osso.
- Saberei mostrar minha gratidão! – disse o lobo.
A cegonha fez como pedia o lobo, arrancou o osso e, depois perguntou:
- Agora, qual é a minha recompensa?
- Você colocou a cabeça dentro da minha boca e eu nem a comi. Portanto, já está recompensada!
“Os maus nunca são gratos.”


32. AS LEBRES E AS RÃS
Por muito tempo, as lebres acharam que qualquer outro anima era um inimigo. O medo era tanto que um dia decidiram atira-se num lago e morrer. Quando chegaram à ribanceira, viram algumas rãs, que ali descansavam, se atirarem no lago.
A mais velha disse:
- Vejam só, há quem seja mais medrosa do que nós...
“Há sempre alguém pio do que nós.”


33. O LEÃO E O RATINHO
Um leão estava dormindo e acordou com as cócegas que um ratinho fazia ao correr no seu focinho. Com um terrível rugido, o leão agarrou o importuno e ia devorá-lo, quando o ratinho disse:
- Por favor, poupe minha vida! Eu saberei retribuir a sua generosidade!
O rei dos animais achou graça da pretensão do ratinho. Como é que um simples camundongo poderia ajudar uma fera tão poderosa? Achou tanta graça que soltou o infeliz.
Tempos depois, o leão caiu numa rede armada pelos caçadores e ali se debatia quando chegou o ratinho, que tinha ouvido seus rugidos.
- Espere um pouco – disse o ratinho.
E, roendo as malhas da rede, libertou o leão.
“Os fracos também podem ajudar os fortes.”

34. O LEÃO DOENTE
Um velho leão, já sem forças para conseguir o seu próprio alimento, espalhou a notícia de que estava muito doente e que receberia quem o fosse visitar na caverna.
Os animais ouviram a notícia e, um a um, foram à caverna para saber da saúde do velho leão. Depois que muitos animais ali sumiram, a raposa começou a desconfiar. Foi até a caverna, parou a uma distância segura e chamou o leão:
- Como se sente, Majestade?
- Sinto – me um pouco velho – respondeu o leão. – Mas por que não entra aqui, cara amiga? Vem me fazer um pouco de companhia...
- Não, não – respondeu a raposa. – Nessa caverna há muitos rastros que entram e nenhum que sai!
“Os espertos aprendem com a desgraça dos outros.”


35. A RAPOSA E A CEGONHA
Uma raposa convidou uma cegonha para jantar e só lhe serviu uma sopa, dentro de um prato muito raso. A raposa lambia o prato com facilidade, enquanto a cegonha só conseguia molhar um pouco a ponta do bico. A cegonha acabou indo embora tão faminta quanto chegara.
- Que pena! – disse a raposa, ao se despedir. – Minha sopa não lhe agradou! Talvez não estivesse bem cozida!
- Não precisa se desculpar – respondeu a cegonha. – Venha jantar em minha casa na próxima semana.
A raposa aceitou o convite e, uma semana depois, foi jantar na casa da cegonha. Para seu desapontamento, ela lhe serviu a sopa num jarro comprido, de gargalo estreito.
A cegonha enfiou o bico no gargalo e bebeu a sopa toda. A raposa não conseguiu beber uma só gota.
“Quem zomba dos outros é vítima de zombaria.”


36. O MENINO NADANDO NO RIO
Num dia de primavera, um menino passeava à margem de um rio. A água estava tão convidativa que ele se despiu e mergulhou nela. Mas a correnteza era muito forte e, pouco tempo depois, o menino estava correndo o perigo de se afogar. Um viajante que passava por ali socorreu – o, enquanto ele gritava:
- Socorro!
“A imprudência está a um passo do perigo.”


37. AS RÃS PEDINDO REI
As rãs viviam felizes na sua lagoa. Brincavam e saltavam sem se preocupar. Algumas delas, porém, não concordavam com aquele modo de vida.
- Devemos ter um rei – disse uma rã às outras. – Ele nos governará e dirá o que devemos fazer.
Então, as rãs foram até Júpiter e lhe pediram um rei. Júpiter atirou um pedaço de pau na lagoa, dizendo:
- Aí está o rei que vocês pedem!
No início, as rãs se apavoraram; mas logo viram que se tratava de um pedaço de pau. Saltaram em cima dele:
- Ele nem se move!
Voltaram a falar com Júpiter e pediram um rei de verdade:
- Queremos um rei que nos governe!
Júpiter, então, mandou-lhes uma cegonha, que começou a devorar as rãs.
- Salve-nos, Júpiter! – gritavam elas.
“É preciso construir hoje o dia de amanhã .”


38. O LOBO, O LEÃO E O CARNEIRO
Certo dia, um lobo roubou um carneiro. Havia tirado o pobre animal do rebanho e o levava para o seu esconderijo quando um leão apareceu no seu caminho e arrancou o carneiro das mandíbulas do lobo. O lobo correu até uma distância segura e gritou para o leão:
- Você roubou o que me pertence!
O leão retrucou:
- Ladrão que rouba ladrão...(tem cem anos de perdão)
“Só podemos exigir respeito pelo que nos pertence com justiça.”


39. A COTOVIA E SEUS FILHOTES
Ao começar a primavera, uma cotovia fez seu ninho num verde trigal. Os filhotes da cotovia cresceram e quando adquiriram forças para voar o trigo já estava maduro. O fazendeiro olhou para o campo e disse:
- É tempo de ceifar meu trigo. Vou chamar os vizinhos para me ajudar.
Os filhotes ouviram e voaram para avisar a mãe:
- O fazendeiro vai corta o trigo! Temos que nos mudar depressa!
- Temos tempo retrucou a mãe.
Dias depois, o fazendeiro voltou ao trigal. Viu que o trigo estava completamente maduro, quase a cair no chão.
- Não há tempo a perder. Vou contratar uns ceifadores e amanhã venho ceifar com eles.
- Agora sim – disse a cotovia – é tempo de nos mudar!
“Se você quer o trabalho feito, faça-o.”


40. AS ÁRVORES E O MACHADO
Um lenhador foi à floresta e pediu às árvores que lhe dessem um cabo para o seu machado.
Algumas das árvores querendo ajudar o lenhador, disseram-lhe onde ele poderia encontrar uma boa árvore cuja madeira servisse para o cabo.
Logo que o lenhador preparou o cabo para o machado, começou a brandi – lo a torto e a direito, derrubando as árvores mais fortes da floresta.
Um velho carvalho, lamentando a destruição, disse á outra árvore:
- Se nossas irmãs não quisessem agradar ao lenhador, viveríamos ainda centena e anos.
“Se quer proteção, proteja o seu próximo.”


41. HÉRCULES E O CARROCEIRO
Um carroceiro vinha puxando sua carroça no campo. De repente, uma das rodas meteu-se no sulco profundo da estrada. Desesperado, sem saber o que fazer, o carroceiro começou a gritar para que Hércules, o deus da força, o ajudasse.
Hércules ouviu os gritos do homem e desceu do Monte Olimpo, onde vivem os deuses. Mas, em vez de retirar a carroça do buraco, disse ao carroceiro:
- Ponha o seu ombro de encontro à roda e empurre-a, que ela sairá daí.
“Ajude-se a si mesmo antes de pedir ajuda aos outros.”


42. O MACACO E O GOLFINHO
Um marinheiro levava consigo um macaco no navio. O macaco divertia toda a tripulação. De repente, o navio estava no meio um uma terrível tempestade: os fortes ventos e as grandes ondas quebraram o navio em pedaços. O marinheiro, a tripulação e o macaco tiveram de jogar-se ao mar e nadar para não se afogarem.
Um golfinho viu o macaco se debatendo na água e veio ao seu socorro: o macaco montou nele e lá se foram até a costa. O golfinho achava que o macaco era um homem e lhe perguntou:
- O senhor é ateniense?
- Sim, sou – respondeu o macaco. – Minha família é uma das mais importantes de Atenas!
- Então você conhece o Pireu?
O macaco não sabia que Pireu é o famoso porto em Atenas. E respondeu:
- Conheço muito bem. É um dos meus melhores amigos.
O golfinho ficou tão zangado que atirou o macaco dentro d’água e afastou-se, nadando.
“Sempre se descobre a mentira.”


43. O FAZENDEIRO E A CEGONHA
Um fazendeiro armou uma rede no campo onde havia plantado milho, porque os pardais desciam ali para comer milho semeado. Entre os pardais, caiu na rede uma cegonha.
- Espere aí! – exclamou a cegonha. – Não sou pardal, sou cegonha. Não tenho nada a ver com isto! Solte-me!
O fazendeiro retrucou:
- Se não é pardal, o que estava fazendo no meio desses ladrões?
“Quem é bom não se mistura com os maus.”


44. O CAVALO E O EMPREGADO
Havia um empregado que escovava e limpava o seu cavalo durante horas seguidas. Mas ele também aproveitava essas horas para furtar milho do cavalo e vendê-lo na aldeia, em proveito próprio.
Um dia o cavalo disse ao empregado:
- Se queres melhorar minha aparência, esfregue-me menos e alimente-me mais.
“Furto é sempre furto, mesmo quando feito com um sorriso.”


45. OS VIAJANTES E O URSO
Dois homens viajavam juntos quando, de repente, surgiu um urso de dentro da floresta e parou diante deles urrando. Um dos homens subiu na árvore mais próxima e agarrou – se aos ramos. O outro, vendo que não tinha tempo para se esconde, deitou-se no chão, esticado, fingindo-se de morto, porque tinha ouvido dizer que os ursos não tocam em homens mortos.
O urso aproximou-se, cheirou o homem deitado e voltou para a floresta.
Quando a fera desapareceu, o homem que estava na árvore desceu apressadamente e perguntou ao companheiro:
- Vi o urso dizer alguma coisa no seu ouvido. O que foi que ele disse?
- Disse que eu nunca mais deveria viajar com um medroso.
“Na hora do perigo é que se conhece os amigos.”


46. O MENINO E AS NOZES
Um menino, ao ver um jarro cheio de nozes, meteu a mão para tirar algumas. Apanhou tantas nozes quanto pôde e tentou puxar para fora a mão cheia. Mas a mão fechada com as nozes não passava pela bica do jarro. Sem saber como se livrar, começou a chorar. A mãe o socorreu.
“Quem tudo quer, nada tem.”


47. O PORCO – ESPINHO E AS TOUPEIRAS
O tempo estava esfriando e um porco-espinho começou a procurar abrigo. Encontrou um buraco excelente, mas viu que ele estava servindo de casa para a família das toupeiras. O porco-espinho chegou perto do buraco e perguntou às toupeiras:
- Vocês me deixariam ocupar um pouco desse espaço durante o inverno?
As toupeiras, que eram boazinhas, consentiram e o porco-espinho enfiou-se dentro da gruta. Mas o buraco era tão pequeno que cada vez que as toupeiras se mexiam, os pêlos do porco-espinho as espetavam. As toupeiras agüentaram enquanto puderam, até que, inconformadas, decidiram que uma delas falaria com o hóspede:
- Seu Porco-Espinho, venho pedir que o senhor se mede e que nos devolva a nossa gruta.
- Essa na! – retrucou o porco-espinho. – Os incomodados que se mudem!
“É melhor conhecer os hóspedes antes de oferecer-lhe hospitalidade.”


48. O PASTOR E O LOBO
Certa vez, um pastor encontrou um filhote de lobo que a mãe havia abandonado. O pastor levou o filhote para a casa, tratou dele e ensinou-o a rouba carneiros dos rebanhos vizinhos. O lobo cresceu e aprendeu tão bem que um dia roubou um carneiro do rebanho do próprio pastor.
- Por que fez isso comigo? – perguntou o pastor queixoso, ao lobo.
- Por que me ensinou a roubar? – retrucou o lobo.
“Quem ensina o mal, com o mal será castigado.”


49. A RAPOSA E O CORVO
Um corvo faminto furtou um belo queijo e, com ele no bico, voou para o alto de uma árvore. A raposa viu o corvo e gritou para o alto:
- Bom dia, belo corvo! Que lindas são as suas penas, que belo o seu porte, que elegante a sua cabeça! Sou capaz de jurar que um animal bonito assim deve ter também uma bonita voz! Cante, que eu quero ouvi-lo!
O corvo, envaidecido, abriu o bico para cantar. E o queijo acabou caindo na boca da raposa.
“Os elogios exagerados são sempre suspeitos.”


50. A LEOA
Os animais dos campos e das florestas discutiam: qual deles seria capaz de ter maior número de filhos?
Nesse momento, passou a leoa. Os animais fizeram a leoa par e lhe perguntaram:
- Estamos tentando saber qual de nós tem a maior ninhada. Quantos filhos você tem a cada ninhada?
- Um só – respondeu a leoa. – Mas lembre-se: é um leão!
“A qualidade vale mais que a quantidade.”


51. O AVARENTO
Um avarento vendeu tudo o que possuía e, com o dinheiro que conseguiu, comprou um enorme pedaço de ouro. Depois, cavou um buraco no jardim e ali enterrou o ouro. Todos os dias ele ia até o jardim, desenterrava o ouro e o completava amorosamente.
Um dos empregados do avarento começou a conjeturar sobre o que fazia o patrão durante tanto tempo no jardim. Escondeu-se por detrás de uma árvore e descobriu o segredo do tesouro escondido.
À noite, enquanto o avarento dormia, o empregado foi até o jardim e furtou o ouro.
Quando o avarento percebeu que o tesouro havia desaparecido, começou a chorar desesperadamente, arrancando os cabelos. Neste momento, um vizinho lhe disse:
- Pare de chorar, meu caro. Pegue a pedra e ponha dentro do buraco. E venha todos os dias contemplá-la.
“Tantos os ricos como os pobres podem ser avarentos.”


52. A CIGARRA E A FORMIGA
A cigarra cantava no verão, enquanto a formiga passava os dias guardando comida para o inverno. Quando o inverno chegou, a cigarra não tinha o que comer e foi procurar a vizinha formiga:
- Formiga, por favor, ajude-me. Não tenho o que comer...
A formiga perguntou:
- O que é que você fazia no verão? Não guardou nada?
- No verão eu cantava... – respondeu à cigarra.
- Ah, cantava? Pois dance, agora!
“Deve-se prever sempre o dia de amanhã.”


53. OS DOIS VIAJANTES E O MACHADO
Dois viajantes iam por uma estrada. De repente um deles parou, apontou para o chão e disse:
- Veja! Achei um machado!
- Não, meu amigo – disse o outro. – Não diga “achei um machado”; diga “achamos um machado”.
E pegou o machado do chão. Continuaram a andar. Logo adiante um homem veio correndo e gritando:
- Este machado é meu!
O viajante que achara o machado disse ao outro:
- Fomos apanhados!
- Oh, não! – disse o outro. – Não diga “fomos apanhados”. Diga “fui apanhado”!
“Quem não sabe dividir o prêmio não deve dividir o perigo.”


54. O LOBO E O CARNEIRO
Um dia um lobo encontrou um carneirinho que se afastava do rebanho. O lobo precisava de uma boa razão para devorá-lo e disse a ele:
- Você é o carneirinho que me insultou no ano passado!
- Não – disse o carneirinho. – No ano passado eu ainda não tinha nascido...
- Então você é o carneirinho que comeu a grama das minhas pastagens!
- Não – retrucou o carneirinho. – Sou tão pequeno que ainda não como grama.
- Então você é o carneirinho que bebeu no meu poço!
- Não – respondeu o carneirinho. – Não preciso de água porque bebo o leite da minha mãe.
O lobo saltou sobre o carneirinho, urrando:
- De qualquer modo, vou devorar você!
“Quem quer fazer o mal usa qualquer desculpa.”

55. O CÃO E A LEBRE
Um cão caçador viu uma lebre escondida numa moita. Quis logo caçá-la, mas a lebre disparou a correr e desapareceu. Por ali passava um pastor que viu como o cão perdeu a lebre e disse:
- Você se julga um caçador? A lebre é dez vezes menor do que você e mesmo assim você a perdeu!
- Você se esquece, pastor – respondeu o cão -, que eu estava só procurando o que comer, enquanto a lebre estava procurando salvar a vida dela!
“O medo torna as pessoas mais espertas.”

56. O FAZENDEIRO E SEUS FILHOS
Um velho fazendeiro, sentindo que ia morrer, pensou: “Morreria feliz se seus filhos fossem bons lavradores”.
Chamou os dois filhos e disse a eles:
- Não vou viver muito. Ouçam o que tenho a dizer: no solo nossas vinhas há um tesouro escondido.
E morreu.
Os dois jovens trataram de procurar o tesouro. Com enxadas e pás escavaram todo o terreno, sem encontrar o ouro e as pedras preciosas que imaginavam.
Mas, graças ao trabalho de revolver a terra, as videiras produziram as melhores uvas que já tinham visto.
O mais velho dos filhos disse para o irmão:
- Agora sei de que tesouro falava o nosso pai. São as nossas vinhas, mais ricas do que nunca.
“O bom trabalho produz a riqueza.”


57. O CAÇADOR E A PERDIZ
Um dia, um caçador armou uma arapuca para ver se pegava um falcão. Ao voltar à floresta, horas depois, encontrou uma perdiz dentro da arapuca.
- Senhor caçador, solte-me! – exclamou a perdiz. – se me soltar, eu lhe mostro um lugar onde há uma porção de perdizes!
- Nada disso! Se você caiu na minha armadilha e quer sua liberdade em troca da de suas irmãs, merece ir pra panela.
“Ninguém deve tentar salvar-se traindo seus amigos.”


58. O LEÃO APAIXONADO
Faz muito tempo, um leão apaixonou-se pela filha do leão e pediu-a em casamento. O lenhador não concordava, mas não deixou que o leão percebesse isso.
- Nobre leão – disse o lenhador ao animal apaixonado - , a sua proposta muito me honra. Mas pense nos temores de minha filha... Você tem dentes e unhas muito grandes, que podem arranhá-la. Antes de anunciarmos o noivado, deixe-me cortar suas unhas e arrancar seus dentes.
O leão estava tão apaixonado que concordou. O lenhador arrancou os dentes e as unhas do leão.
- Agora anuncie o noivado! – disse o leão.
- Você acha que minha filha se casará com um noivo sem unhas e sem dentes? – retrucou o lenhador.
“A paixão tira o juízo.”


59. O BURRINHO NA PELE DE LEÃO
Uma vez um burrinho achou uma pele de leão e meteu-se dentro dela. E assim foi, pela floresta, imitando os urros do leão e com isto assustando todos os animais. De repente, chegou junto da raposa e quis amedrontá-la também. Mas a raposa retrucou aos zurros do burrinho:
- Meu caro, eu também teria ficado assustada se não tivesse reconhecido os seus zurros.
“A roupa só disfarça o tolo até que ele abra a boca.”


60. OS CAMUNDONGOS EM CONSELHO
Um dia os camundongos se reuniram para decidir a melhor maneira de lutar contra o inimigo comum, o gato. Depois de muita conversa, um ratinho pediu a palavra e falou:
- Sabemos que o grande perigo é quando o gato se aproxima tão mansamente que não percebemos a sua presença. Propondo que coloque um guizo no pescoço do gato. Graças ao barulho do guizo, saberemos quando o gato está se aproximando, e teremos tempo para fugir.
Todos aplaudiram a idéia brilhante. Mas um ratinho mais experimentado também pediu a palavra e disse:
- A idéia é muito boa. Mas quem vai pendurar o guizo no pescoço do gato?
“É mais fácil falar do que fazer.”


61. A FORMIGA E A POMBA
Uma formiga sedenta veio à margem do rio para beber água. Para alcançá-la, teve que descer por uma folha de grama. Quando fazia isso, escorregou e caiu dentro da correnteza.
Uma pomba, pousada numa árvore próxima, viu a formiga em perigo. Rapidamente, arrancou uma folha da árvore e deixou-a cair no rio, perto da formiga. Assim, a formiga pôde subir na folha e flutuar até a margem.
Logo que alcançou a terra, a formiga viu um caçador de pássaros, que se escondia atrás de uma árvore, com uma rede nas mãos. Vendo que a pomba corria perigo, correu até o caçador e mordeu o calcanhar dele. A dor fez o caçador largar a rede e a pomba fugiu para um ramo mais alto.
De lá, ela arrulhou para a formiga:
- Obrigada, querida amiga.
“Uma boa ação se paga com outra.”


62. O CÃO E A SOMBRA
Um cão, com um pedaço de carne na boca, atravessava a ponte sobre o rio. Olhando para baixo, viu a própria sombra dentro da água. Pensando que o reflexo era um outro cão com um pedaço maior de carne na boca, decidiu roubá-lo e, para fazer isso, abriu as mandíbulas. O pedaço de carne que ele segurava caiu no rio e foi-se embora...
“Quem tudo quer, tudo perde.”


63. A GANSA DOS OVOS DE OURO
Certa manhã, um fazendeiro descobriu que sua gansa tinha posto um ovo de ouro. Pegou o ovo, correu para casa e mostrou-o à mulher, dizendo:
- Veja! Estamos ricos!
Levou o ovo ao mercado e vendeu-o por um bom preço.
Na manhã seguinte, a gansa tinha posto outro ovo de ouro, que o fazendeiro vendeu por um preço ainda melhor. E assim aconteceu durante muitos dias. Mas, quanto mais rico ficava o fazendeiro, mais dinheiro ele queria. E Pensou:
“Se esta gansa põe ovos de ouro, dentro dela deve haver um tesouro!”.
“Quem tudo quer, tudo perde.”


64. O TROMBETEIRO FEITO PRISIONEIRO
Havia um trombeteiro que gostava de marchar à frente das tropas, tocando orgulhosamente sua trombeta. Certo dia, numa batalha, por estar à frente dos outros, foi o primeiro a ser aprisionado pelo inimigo. Então gritou para os homens que o prendiam:
- Por favor, poupem-me! Nunca matei ninguém! Nem uso armas! Só trago comigo a minha trombeta!
- Por isso mesmo prendemos você – retrucou um dos carcereiros. – Você não luta, mas estimula os outros a lutarem.
“Os que provocam briga são piores do que os participam dela.”


65. A VENDEDORA DE LEITE E O BALDE
Uma vendedora de leite ia andando a caminho do mercado. Na cabeça, levava um balde de leite. Enquanto andava, ia pensando no dinheiro que ganharia com a venda do leite:
- Vou comprar umas galinhas. As galinhas vão botar ovos todos os dias. Vendo os ovos por um bom preço. Com o dinheiro dos ovos, compro uma saia e um chapéu novos. De que cor? Verde, tudo verde, que é a cor que fica bem em mim. Irei ao mercado de vestido novo. Os rapazes vão me admirar, me acompanhar, me dizer galanteios, e eu sacudirei a cabeça ...assim!
E sacudiu a cabeça. O balde caiu no chão e o leite todo se espalhou. A vendedora de leite voltou com o balde vazio.
“Não se deve contar hoje com os lucros de amanhã.”


66. O FEIXE DE VARAS
Era uma vez um pai cujo os filhos viviam brigando entre eles. O pai tentou ensiná-los a evitar aquelas discussões, mas nada adiantava. Um dia, chamou todos eles e lhes mostrou um feixe de varas. Então, disse-lhes:
- Dou um prêmio a quem conseguir quebrar esse feixe de varas.
Cada um dos filhos experimentou, curvando o feixe nos joelhos, no pescoço, sem conseguir quebrá-lo. Por fim, o pai desamarrou o feixe e quebrou as varas uma a uma. E disse a eles:
- Se vocês permanecerem unidos, ninguém ousará lutar contra vocês. Se se sepaparem, estarão perdidos.
“A união faz a força.”


67. O MERCADOR DE SAL E O BURRO
Um mercador de sal levou seu burro à beira-mar, para comprar sal. Carregou a garupa do burro e cestas de sal e foi com ele para a casa. No caminho, eles tinham de atravessar um riacho. Ao passar por ele, o burro escorregou e caiu dentro d’água. Quando conseguiu se levantar, o burro achou que a carga estava muito mais leve, porque grande parte do sal havia se dissolvido na água.
Então, o mercador voltou à beira-mar e encheu as cestas com sal novamente. Voltando para casa. O burro caiu dentro do riacho de novo. Desta vez, porém tinha feito de propósito.
O mercador compreendeu a intenção do burro mas, não disse nada. Levou-o novamente junto ao mar, e disfarçadamente, colocou dentro das cestas um carregamento de esponjas.
Quando chegaram junto do riacho, o burro tratou de cair mais uma vez. Foi aí que as esponjas encharcaram de água e, em vez de ficar mais leve, a carga do burro dobrou de peso.
“Quem faz o mal aos outros, será vítima da mesma maldade"

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